sábado, 6 de agosto de 2011

Começando uma nova vida.

Sempre acompanhei alguns blogs de famílias, mães e até pessoas que vivem todos os dias com a luta contra o câncer, mas nunca imaginei estar escrevendo sobre algo do tipo. Só que a vida quis que fosse assim e como sempre achei os textos de quem convive todos os dias com a doença muito fortes, resolvi dividir também como tudo isso aconteceu.
Meados de maio ou junho: um caroço, aparentemente inofensivo, surgiu debaixo do braço da minha irmã. Ao perceber isso, ninguém deu uma importância muito grande e resolvemos esperar mais alguns dias antes de leva-la ao médico. Algumas semanas depois este caroço começou a doer e a preocupação aumentou.
Junho: minha mãe levou a Bruna ao médico e ele também não se preocupou muito com o que estava acontecendo. Para desencargo de consciência, pediu um ultra-som e alguns exames de sangue. O desespero começou quando os resultados chegaram. No exame por imagem, o médico viu mais alguns caroços e nos exames de sangue as plaquetas estavam totalmente alteradas. Quando esta notícia chegou aos meus ouvidos, meu corpo estremeceu temendo que minha única irmã tivesse leucemia.
Mais algumas pessoas da família compartilharam comigo desta agonia, mas achamos melhor não contar isso para mais ninguém.
05 de julho de 2011: em Alfenas para esclarecimento destes exames, o médico responsável pediu para que levássemos a Bruna em um hematologista e também em um pneumatologista (pois haviam também alguns caroços próximos ao pulmão).  Mais e mais exames foram feitos as pressas como se os médicos já soubessem do que se tratava. Por volta das 18h, o pneumatologista chamou meu pai dentro de uma sala minúscula e disse: "- Sua filha tem uma doença séria. 90% de chances de ser linfoma, câncer no sistema linfático. Pronto! Deste momento em diante passamos a conviver com a ideia de que a Bruna tem câncer. Foi ela própria quem me deu a noticia pelo telefone e na hora minha voz sumiu. Nunca tinha sentido aquela sensação, nunca tinha ficado de verdade sem voz; passei o telefone para minha tia que estava perto e, quando ela desligou, não sabia o que me dizer. Sentei-me no sofá e a hora seguinte foi de total silêncio. As cenas passavam na minha cabeça e eu ficava cada vez mais apavorada.
Em casa, todo o choro que havia dentro de nós desaguava no chão. Fui me deitar com uma sensação que espero não sentir nunca mais.
06 de julho de 2011: o dia começou agitado e logo de manhã meus pais saíram de viagem com a Bruna buscando soluções bem rápidas para o problema. Em Alfenas, consultaram mais alguns médicos e eles solicitaram que retornassem no dia seguinte.
07 de julho de 2011: naquela sexta-feira nada agradável, segui para Alfenas com meus pais e minha irmã. No período da manhã ela faria uma biopsia. Foram momentos ruins, tive muito medo que minha irmã sentisse dor, sofresse com alguma coisa. Uma hora depois do início do procedimento, ela saiu chorando e aquilo me deixou muito mal; me senti um nada na face da terra sem poder ajudar minha irmã. O médico disse que o resultado viria só depois de mais ou menos um mês. E era tempo demais, o sofrimento e a angústia iam destruir meu coração.
Mais tarde, pela primeira vez dentro do consultório de um oncologista, recebemos a notícia de que a Bruna seria transferida para um hospital em Campinas/SP. A minha primeira reação foi de pânico total, pensei que era mais grave então do que haviam dito, mas o médico depois explicou que essa transferência não tinha nada a ver com uma possível gravidade. Era para "ganhar tempo". Em uma região de cidades pequenas, todos os exames demoravam tempo demais e isso não era legal. Esperar não era a melhor saída naquele momento.
O plano de saúde prontamente nos encaminhou para o Centro Infantil Boldrini, um lugar que fez a esperança brotar em nossos corações novamente.
11 de julho de 2011: já em Campinas, meus pais e a Bruna chegaram ao hospital e ficaram maravilhados com o que viram. Excelência em estrutura, em médicos, enfermeiros e voluntários. Meu pai usou e usa até agora a expressão "pedacinho do céu". Muito mais que médicos e enfermeiros, seres humanos com o dom de  nos olhar e transmitir tudo de mais bonito que é possível. Todos explicaram tudo o que meus pais queriam saber e tinham sempre muito otimismo: vamos tratar isso!
Um processo de investigação médico foi iniciado para constatar de fato, com 100% de certeza o que a minha pequena tinha. Após alguns exames, os médicos disseram que podia ser sim câncer no sistema linfático, mas que ainda era necessário uma segunda biopsia e também um exame para verificação da medula óssea.
Já de volta em Carmo do Rio Claro, minha irmã e eu participamos do XVII ENJOCCARC - Encontro de Jovens Cristãos de Carmo do Rio Claro. Para mim, não era mais o primeiro ano, mas para a Bruna era algo muito mais que especial. Nunca vou ter palavras para agradecer o carinho de todas aquelas pessoas. As orações, manifestações de amizade e apoio, tudo foi muito especial e importante para nós. Em um local muito especial do encontro, muitos amigos meus se reuniram para rezar pela irmã. Na fala de cada um, sentia o imenso carinho e tinha a sensação de que estavam dividindo aquele sofrimento comigo quando me abraçavam. Vi pessoas que jamais imaginava chorando pela minha irmã; pessoas com quem eu não conversava mais por motivos mundanos demais, fúteis demais perto da dor que eu sentia. Na segunda-feira após o encontro, ela voltaria para Campinas e seria naquele dia que receberia o diagnóstico final. Sendo sim, já faria a primeira sessão de quimioterapia. E assim foi. Na segunda-feira, 25 de julho de 2011, ela fez a primeira quimioterapia diagnosticada com câncer aos 14 anos de idade.
25 de julho de 2011: após chegar do hospital, a Bruna passou mal algumas vezes. Muito mole e com uma cor não muito normal, minha irmã sofria os primeiros efeitos de um tratamento pesado. A vida depois daquele dia mudou muito. As restrições alimentares mudaram nossos hábitos e horários. Os  muitos comprimidos por dia nos fizeram olhar mais para o relógio. Sempre se mostrando muito, muito forte, Bruna encarou com naturalidade os enjoos que logo foram embora.
01 de agosto de 2011: segunda sessão de quimioterapia muito bem sucedida e também uma ótima notícia: PLAQUETAS AUMENTANDO, SISTEMA IMUNOLÓGICO RESPONDENDO BEM! Ufa! Essas palavras soaram como a mais bela música nos meus ouvidos e meu coração respirou aliviado. De volta em casa, nenhuma reação. Graças a Deus!
04 de agosto de 2011: Neste dia, Bruna teria que fazer um ecocardiograma em Campinas e, pela primeira vez, fui junto com ela. Chegando lá, não tinha reação vendo aquelas crianças tão pequenas, tão doces, tão inocentes lutando contra uma doença. Me deparei com crianças que me olharam e sorriram o sorriso mais sincero que eu já vi no mundo! Não tinha explicação o que eu estava vivendo, o que eu estava vendo. A Bruna estava em um quarto tomando alguns remédios na veia e no quarto ao lado uma mãe e um bebê de no máximo uns 6 meses. Aquilo me doeu muito. Lembrei da minha Helena e agradeci a Deus por ela estar bem e  segura em casa.
05 de agosto de 2011: um mês após a notícia.
Resolvi começar a escrever para dividir com as pessoas cada experiência, cada demonstração de carinho, cada momento em que minha irmã demonstra muita força!Para contar como é este mundo que ninguém quer entrar, mas que, quando entra, começa a entender como é o poder da fé, da força, do amor e da amizade.
Sei que vou compartilhar aqui coisas boas e outras não tão agradáveis assim.
Fica aqui o meu agradecimento a todos por tudo!

9 comentários:

  1. Rubia, muito generosa a sua iniciativa de partilhar sentimentos de força e superação conosco. Com certeza esta fase pela qual Bruna e família passam, faz todos sentirem-se mais humanos e esquecer a futilidade, materialidade da vida e pensar no Ser Humano como uno e junto. Porque, é só mesmo fé, amizade, amor e todo sentimento bom que agrega e faz a vida melhor! BRUNA força amore! E pra toda FAMILIA! Esta linda história, será um grandioso e certo exemplo de superação! Obrigada por partilhar conosco.

    ResponderExcluir
  2. 9. Porque o Senhor é teu refúgio. Escolheste, por asilo, o Altíssimo.
    10. Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda,
    11. porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos.
    12. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra.
    13. Sobre serpente e víbora andarás, calcarás aos pés o leão e o dragão.
    14. Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei, pois conhece o meu nome.
    15. Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória.
    ( Salmo 90)

    E diante desse lindo depoimento nós vemos que tudo se torna pequeno, perto do amor, das amizades, da família, da fé... Com certeza já entramos vencedores nessa luta, sim, vencedores, porque creio que em cada um de nós vive um sentimento puro e sincero por essa nossa irmã...
    Tamo sempre aqui... pro que der e vier... XD

    ResponderExcluir
  3. Ru, sua iniciativa de transcrever essa experiencia que envolve dor e conquista em certos momentos é de uma humanidade unica, nos mostra o quanto é importante ter os nossos sempre perto.
    Levarei pra vida toda esse exemplo de força e amor a vida que a Bruna tem nos mostrado

    Contem sempre com minhas orações.

    ResponderExcluir
  4. Estarei sempre rezando por todos voces contem comigo para o que precisarem

    Yamara Bueno

    ResponderExcluir
  5. A força da amizade vence todas as diferenças...
    Aliás... para que diferenças se somos amigos?
    Quando erramos... nos perdoamos e esquecemos
    Se temos defeitos... não nos importamos...
    Trocamos segredos...
    e respeitamos as divergências...
    Nas horas incertas, sempre chegamos no momento certo...
    Amigos sem cor... sem sexo... sem idade...
    Amigo é só amigo...
    Nos amparamos...nos defendemos...
    sem pedir...
    fazemos porque nos sentimos felizes em fazer...
    Nos reverenciamos... adoramos... idolatramos... apreciamos... admiramos.
    Nos mostramos amigos de verdade,
    quando dizemos o que temos a dizer...
    Nos aceitamos , sem querer mudanças...
    Estamos sempre presente,
    não só nos momentos de alegria,
    compartilhando prazeres,
    mas principalmente nos momentos mais difíceis...
    Não tiramos a liberdade...
    não sufocamos... não forçamos nossa presença...
    Estamos perto quando de nós necessitam...
    e ao nos afastarmos ,
    respeitamos sempre a individualidade alheia.

    A amizade não se força...
    Mas tem uma força
    que se intensifica a cada instante...
    É dessa maneira que sou teu (tua) amigo (a )!!!
    amo vcs
    contem sempre

    ResponderExcluir
  6. A energia astral que emana da irmandade pura destrói qualquer barreira, vivemos para sermos felizes e nossa felicidade é conquistada a cada momento que afirmamos nosso amor ao próximo.

    ResponderExcluir
  7. Bruna, acabei de ler seu blog!Tenho certeza que vocês vão superar isso! Sei que não temos contato, mas gostaria de dizer que se precisar de alguma coisa conte comigo! A partir de hoje vou rezar para vocês, esse susto vai passar e tudo vai voltar a ficar normal! Beijos Valeria

    ResponderExcluir
  8. OI,Rubia nao conheço vcs,mas desejo q td de certo e no final vcs ainda vao estar mais felizes,com mais amigos e mais sabedoria...q Deus as abençoe....

    "Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas doenças. "E isso quer dizer..Deus

    ResponderExcluir