sexta-feira, 30 de março de 2012

"E no final, tudo dá certo. Se não deu, é porque o fim ainda não chegou."

No dia da primeira postagem, fiquei imaginando se eu chegaria aqui, na última. O medo do desconhecido me assombrava e o medo da morte me olhava bem de perto. Por mais que fosse otimista, ver alguém da família receber um diagnóstico de câncer faz sim a morte passar pela sua cabeça. Imaginei qualquer coisa na minha vida, qualquer coisa mesmo. Menos que a minha irmã fosse ter câncer. Mas acho que a vida é isso aí mesmo... vem sempre pra contradizer as nossas "certezas" e mostrar que tudo pode ir além do que a gente achou que ia. Tudo vem pra fazer a gente entender que nem tudo é do jeito que a gente pensava que fosse, que mudar é sempre preciso e possível, que nem todo mundo que diz que te ama é realmente seu amigo e que as pessoas que dizem que amam você amam mesmo, e amam mais do que você pensava que amassem. 

Oito meses de tratamento que se encerram hoje. Oito meses de uma rotina diferente, muitas vezes dolorida, de distância, de choro, de raiva, de medo, de tristeza, de desânimo, mas que no final mostrou a cura, a superação magistral, espetacular, maravilhosa, inacreditável da Bruna. E eu tô tão feliz escrevendo isso aqui hoje, porque tantas coisas eu partilhei aqui e hoje tenho a graça de partilhar a vitória! 
Nunca mais, nunca mais mesmo a vida vai ter pra mim o mesmo significado. Foram meses de reflexão, de perguntas e de muitas respostas. Para as perguntas que não encontrei respostas, existe hoje uma coragem dentro de mim que vai me impulsionar a ir atrás e descobrir. E também criar novas questões, sempre!

Tantas manifestações, tanto carinho. Meu Deus, como agradecer às pessoas que rezaram, se preocuparam, sofreram junto? Como agradecer aos anjos que rasparam a cabeça em solidariedade a Bruna quando ela perdeu os cabelos? O que dizer agora para amigos que gravaram vídeos, tiraram fotos e publicaram, sem vergonha de exibir a careca? Não existe o que dizer. Muito obrigado chega a ser xingamento perto de tamanha gratidão. 

Não é possível citar nomes, mas algumas pessoas foram fundamentais para que a força não fosse embora. 
Pra minha família...
Para o Vanildo, que não me deixou hora nenhuma. 
Pro Tadeu, que foi peça chave nisso tudo.
Rafael, que dividiu um momento de graça comigo e fez promessas ali comigo, diante de Quem não nos abandonou em segundo nenhum.
Ao senhor Luis, dona Nilza, Matilinho, Rogério Freitas, Vicente, Rute que foram inexplicavelmente generosos.
Thiago Borba, autor do vídeo mais emocionante, que nos deu uma prova de amizade sem tamanho. 
A todos que rasparam a cabeça: Dani, Marco Mendonça, os meninos da sala, Gustavo, Mateus, enfim. 
Aos professores, tanto os meus quanto os da Bruna. Aos meus pela paciência, carinho e compreensão. Aos da Bruna pelo carinho, pelo amor, pela amizade, pela prontidão em ajudar. Não só aos professores, mas a todos os funcionários do Colégio Vencer. 
Aos meus colegas de faculdade que me abraçaram e arrancaram sorrisos quando eu estava pra baixo. 
A todos os meus amigos.
A Isabella, Didi e Paulo Afonso. 
Aos vicentinos de tantas cidades do Brasil que colocaram as orações da Bruna na rotina. 

Aos médicos, enfermeiros e funcionários do Centro Infantil Boldrini, em especial a Drª. Flávia. Ok, é bem provável que eles nem cheguem a ler isso, mas eu preciso dizer o quanto vocês são especiais, nota 1000000000 ! O dom que vocês tem não cura apenas o corpo físico, cura o coração! No ápice do desespero, encontrar profissionais iguais a vocês foi primordial. Pra sempre, vocês estarão no meu coração e nas minhas orações. 

Enfim, fica aqui esse agradecimento cheio de lágrimas e emoção a todos! E me desculpe se eu não citei alguém, não foi por esquecimento ou ingratidão. Todos vocês serão sempre lembrados com muito carinho.

As crianças e famílias que ainda seguem na luta, FORÇA! Vencer o câncer é possível! Dar a volta por cima com um sorriso no rosto e o coração cheio de esperança é possível! Vocês vão conseguir porque Deus jamais desampara quem Dele precisa. 

Hoje, fim das sessões de radioterapia. O que faltava para fechar. Agora, o acompanhamento que segue pelo resto da vida, mas tudo o que importa neste momento é que a Bruna não tem mais câncer! 

O blog não termina aqui. É uma vírgula, porque na verdade eu preciso respirar, esquecer que escrevi aqui coisas tão tristes, desesperadoras. Porém, eu vou continuar contando aqui histórias de superação de outras pessoas, seja no câncer ou em qualquer outra situação da vida. Quem sabe assim as pessoas entendam que o nosso problema é sempre muito pequeno perto do problema de outras pessoas e sorriam mais pra vida. 

Termino o meu último posto contando a história da Bruna com uma foto. Uma foto que simboliza a vitória e a saúde! 

Bui, te amo !



Até qualquer dia. 

domingo, 11 de março de 2012

Hoje, recuperei uma parte de mim

22 de julho de 2011: Estávamos em casa e a Bruna se arrumava para ir pro ENJOCCARC. Ela me pediu então para arrumar os cabelos dela, passar chapa. Eu fui, mas já sentia ali uma dor que me roeria por dentro muito mais intensamente dentro de algumas semanas. Ela ainda não tinha dado início às sessões de quimioterapia, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela perderia o cabelo e pensar nisso me deixava sem ar. Eu fiquei ali, passando a mão nos longos fios de cabelo e imaginando qual seria a reação dela quando eles começassem a cair. Três semanas depois, no episódio que descrevi aqui também, na casa do Daniel, naquele dia que eu nunca vou esquecer, pela gratidão e pela dor, quando amigos e o próprio Dani rasparam a cabeça, eu senti aquele aperto que tinha prevido. Conversei com a Bruna antes e perguntei se não seria melhor ela raspar a cabeça. O cabelo já tinha caído muito, acho que 70% dos fios já tinham ido embora e conviver com aquelas mexas que ainda permaneciam mal coladas na cabeça era triste demais. Nesse dia então, ela resolveu que ia se juntar aos colegas. Foi eu quem cortou a primeira mexa e jogou no chão como se jogasse ali um pedaço da alma, da alegria, da paz, do conforto, um pedaço do coração sempre com a oração: Jesus, tira dela e passa pra mim! A vontade de cair no choro era muita, mas existia ela ali, que precisava que aquele momento fosse o mais leve possível. Fixei meu olhar no Vanildo, que acima de tudo foi um grande companheiro e que fez a caridade de estar ali comigo também e enxerguei ali um olhar que me dizia: "-Você não pode chorar agora!" E eu engoli as lágrimas e todos ali entenderam que ela precisava de força. Foi então que o era pra ser uma cena que repetia o foi encenado em uma novela global (que fugiu o nome agora), se transformou em algo natural, leve. Nem parecia mais ser o que era. Vi minha irmã ficar careca quando só tinha 14 anos e uma adolescência cheia de vaidade pela frente.  Ao me lembrar disso agora, fico emocionada. Não imaginei chegar a esse momento agora, não imaginei estar aqui, de pé, firme, pra contar o decorrer dessa situação. Não imaginava que fosse poder contar tão breve o reverso dessa história. Raspei a cabeça da minha irmã, mas hoje eu escovei os cabelos dela de novo. Ainda não tão grandes, mas com tamanho suficiente pra escova correr e fazer um penteado moderninho. 
Pra quem não vê minha irmã há algum tempo, posso afirmar: ela nunca esteve tão linda! E cheia de vida, que é o mais importante. 
Quando passei a escova nela agora há pouco, recuperei aquela parte do meu coração que foi varrida com aqueles fios que um dia foram dela; recuperei o pedaço da alma e só me resta dizer: Obrigada, Deus!!!!

Essa postagem é pra desejar pra ela também um feliz aniversário! Que essa celebração de nascimento (e que nascimento) renove em você, Bruna, toda essa força que você descobriu e mostrou a todos nós nesse período de tratamento que está quase chegando ao fim. O aniversário é seu, mas somos nós que ganhamos um presente: você, a sua vida, o seu sorriso, sua saúde.